Os impressionantes avanços
da informática e das telecomunicações ocorridos recentemente
estão causando sérias tensões na ética e na
prática profissional médica. Com a Internet e a telemedicina,
existe a possibilidade real de se diagnosticar e tratar pacientes à
distância, usando redes de computadores. Há muitos estudos
provando que a relação custo-benefício da telemedicina
pode ser realmente muito vantajosa (por exemplo, um único médico
especialista pode atender locais remotos, carentes de médicos, sem
necessidade de viajar).
Os problemas começam a aparecer quando se
imagina que todo o arcabouço ético e legal da medicina (que
no Brasil é da responsabilidade do Conselho Federal de Medicina)
não contemplou ainda os avanços trazidos pela tecnologia
da telemedicina. Teoricamente, nenhum médico pode clinicar fora
do estado onde obteve seu licenciamento e a telemedicina permite isso,
tecnicamente. Em segundo lugar, o processo legal em casos de erro médico,
violação da ética, confidencialidade do paciente,
etc., é muito difícil de ser feito entre dois países.
O perigo é que os médicos americanos
e europeus comecem a utilizar essas omissões e dificuldades com
a finalidade de ganhar dinheiro em nosso país através dos
recursos da telemedicina, ao mesmo tempo esquivando-se das responsabilidades
legais. O Brasil é um enorme mercado para eles, e muitas instituições
estrangeiras, pressionadas pela queda de verbas para a saúde e pesquisa,
estão procurando mercados alternativos. Recentemente, uma das maiores
seguradoras médicas do Brasil, de propriedade de um grande banco,
começou a fazer estudos visando oferecer serviços de "segunda
opinião médica" para seus segurados com planos executivos
mais caros, utilizando uma conexão de telemedicina com universidades
e hospitais famosos dos EUA. Caso o paciente tenha dúvidas sobre
o diagnóstico ou tratamento recomendado por médicos brasileiros,
credenciados por essa seguradora, ele terá direito a uma consulta
por telemedicina com altos especialistas americanos, podendo, inclusive,
enviar radiografias, eletrocardiogramas, sua história médica
completa, etc., através da Internet.
Não é aceitável que médicos
de outros países possam praticar medicina em nosso país sem
o necessário licenciamento, mas, ao mesmo tempo, esse é um
obstáculo notoriamente difícil de vencer, e que poderá
impedir que a telemedicina internacional realmente traga benefícios
a pacientes e ao sistema de saúde brasileiro. O conhecimento científico
é internacional, e muitos pacientes que podem pagar querem ter acesso
a ele. É mais barato para o Brasil pagar uma consulta telemédica
do que mandar o paciente para Cleveland ou Nova York, gastando dezenas
ou centenas de milhares de dólares.
É também necessário exercer
muita cautela quando se diagnostica e e se trata sem ver o paciente diretamente.
Como sempre, o interesse econômico certamente
vai falar mais alto, e antes que a situação fique fora de
controle, é necessário que se inicie rapidamente um posicionamento
dos profissionais, dos conselhos de medicina e dos nossos legisladores.
Mensagem
do Editor
Medicina Virtual e Ética
Publicação:
Núcleo de Informática
Biomédica
Universidade Estadual
de Campinas
© 1997 Renato
M.E. Sabbatini Apoio:
Searle do
Brasil