Informática, Internet e a Indústria FarmacêuticaRenato M.E. SabbatiniA indústria farmacêutica é um dos setores da economia que mais utiliza processos de informação. Isto decorre de uma série de peculiariedades mercadológicas, entre as quais a necessidade de informação gerencial, de mercado, científicas, de produção, etc., em praticamente todas as etapas do ciclo de vida dos seus produtos. Entre esses processos, três aspectos têm assumido importância cada vez maior no contexto da globalização da economia, do aumento da competitividade, do controle da qualidade e do relacionamento diferenciado com os clientes da indústria. Dois deles são tradicionais na indústria farmacêutica, mas o advento das redes globais de informação, tais como a Internet, está modificando os mesmos de forma profunda e irreversível. São eles: o relacionamento da indústria com o médico e o acesso da indústria às bases de dados essenciais para suas atividades. Um terceiro processo de comunicação é inteiramente novo na indústria, e que só se viabiliza economicamente quando realizado através das redes globais de computadores: é o contato direto com o usuário direto dos medicamentos, tanto no mercado OTC quando no ético. Aplicações ÚteisCom relação aos processos de informação com o médico, a Internet é uma ferramenta extraordinariamente util. Entre as aplicações possíveis, podemos contar, entre outros:
A primeira providência da indústria que quiser atuar nesse setor é estabelecer o que chamamos de uma presença na Internet, ou seja, um conjunto integrado e profissionalmente gerenciado de home-pages, bancos de dados, serviços interativos, correio eletrônico para contatos, etc. Através dessa presença, além de proporcionar informações públicas sobre a própria companhia (descrição, histórico, perfil empresarial, recursos materiais e humanos, filiais, relatório anual, posição no mercado acionário, linha de produtos, posição no mercado de vendas, novos desenvolvimentos, linhas de pesquisa, marcas e patentes concedidas, e outros), a home-page dá acesso ao universo de informações de interesse específico dos médicos. Atualmente, um número muito grande de companhias farmacêuticas descobriu as vantagens e o excelente retorno para a imagem empresarial proporcionado por uma presença competente na Internet. Acesso à InformaçãoO segundo processo de informação eletrônica vital para a indústria, atualmente, é o acesso às bases de dados necessárias para o planejamento estratégico, decisão, atuação tática e acompanhamento das atividades próprias e da concorrência. São informações fornecidas por firmas especializadas, tais como perfil de prescrições, de vendas gerais por especialidade, de estoques correntes, de aquisição por hospitais e governo, de vigilância farmacológica, de aderência, de atividades promocionais, de seguimento de ciclo de vida de produtos, etc. Várias dessas empresas já fornecem o acesso on-line por assinatura a essas bases de dados, mas a Internet permite que a própria empresa, através de questionários interativos por amostragem, consigam efetuar pesquisas de vários tipos. Outras bases de dados interessantes já disponíveis são as regulatórias (por exemplo, comunicações de aprovação e alertas da FDA) e as de informações empresariais (notícias de novos lançamentos, retiradas, fusões e compras, executivos contratados, notícias sindicais, "clippings" econômicos e de noticias médicas, anúncio de licitações, etc.). Na área cientifica e técnica da companhia, destacamos como de interesse o acesso on-line a informações de vários tipos (medicina farmacêutica, processos de produção, pesquisas clínicas, notas de aplicação sobre equipamentos de laboratório e de produção, home-pages dos fornecedores da empresa, etc.). A área de recursos humanos também é usuária em grande crescimento, podendo hoje recrutar através da Internet. A circulação de informação interna na empresa também pode lucrar, atualmente, com a implantação de uma intranet, que é uma rede local que opera com características da Internet, e que comprovadamente leva a uma descentralização, desburocratização e aumento da participação dos empregados na construção do conhecimento da empresa. Em Contato com o PacienteCom relação aos processos de informação direcionados ao paciente, esse contato pode assumir múltiplas formas, desde o marketing direto até o fornecimento de informações sobre saúde e doenças ao paciente. A Internet, através de novas tecnologias, como a multimídia (World Wide Web), direcionamento personalizado ("pointcasting"), grupos e fóruns interativos de discussão e de apoio, etc., representa uma oportunidade pioneira de atuação para aquelas companhias que tiverem a visão e a decisão política para iniciarem projetos nesse sentido. Na Universidade Estadual de Campinas, iniciamos em 1996 um projeto de grande envergadura, em estreita colaboração com a indústria farmacêutica nacional, denominado Hospital Virtual Brasileiro, que tem muitas das características e recursos que são ideais para o setor. Entre esses recursos, temos tudo o que o médico e o paciente podem querer utilizar em termos de acesso categorizado à informação sobre saúde e medicina na Internet, inclusive revistas on-line ("Saúde & Vida On-Line, OdontOnline, Cérebro & Mente, etc.), casos clínicos, software, livros multimídia, fóruns eletrônicos, serviços de tira-dúvidas on-line, a Farmácia Virtual, etc. O Núcleo de Informática Biomédica (NIB) tem uma equipe de alta competência técnica para desenvolvimento de projetos de colaboração com a indústria farmacêutica em várias das áreas citadas. Cooperação Universidade-IndústriaGrande parte deste projeto foi desenvolvido por uma excelente e exemplar cooperação técnica e científica entre a UNICAMP e os Laboratórios Biosintética, uma indústria farmacêutica nacional. Nossa interação teve início em 1993, quanto a empresa decidiu apoiar a criação de uma revista de Informática Médica voltada para a classe, com distribuição gratuita e com o nome de uma grande universidade por trás. Surgiu então a revista Informédica, que foi publicada em papel e na Internet (primeira revista da América Latina e uma das primeiras do mundo nesse formato), com 26.000 exemplares, e que teve publicados 16 números bimestrais. Foi uma experiência de grande sucesso, que teve continuidade através da revista Informática Médica, editada a partir de janeiro de 1998. Ambas publicações obtiveram grande penetração. No final de 1995, a Biosintética e o Núcleo de Informática Biomédica decidiram ampliar a colaboração na área da Internet, principalmente através da visão empresarial moderna, dinâmica e visionária de Omilton Visconde, presidente e fundador da empresa. Desenhou-se então um grande projeto de disseminação de informação médica pela Internet, o maior da América Latina, e que levou, entre outras coisas, ao estabelecimento de uma moderna infraestrutura computacional no NIB, com a ajuda da Biosintética, e à fundação do Hospital Virtual Brasileiro, em maio de 1996. Ao mesmo tempo, o NIB ajudou a Biosintética a traçar a estratégia de sua presença na Internet, e se posicionar no mercado. Técnicos do NIB e da Biosintética criaram o "site" da empresa na WWW, um dos primeiros da indústria nacional, e que foi recheado de projetos pioneiros de alta originalidade, voltados à prestação de serviços gratuitos de informação ao profissional da saúde e aos pacientes. Assim, surgiram projetos como:
Ocorreu também o apoio à Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, cujo site, também elaborado pelo NIB, é um modelo entre as sociedades cientificas: tem a sua revista em texto integral (Revista da SOCESP) e um fórum mensal on-line (em tempo real, através de um "chat"), de debates de temas científicos em cardiologia, alguns deles com discussão de casos clínicos previamente colocados em registro médico multimídia na Internet, também uma aplicação pioneira. Este site foi posteriormente expandido para abrigar mais duas publicações on-line: o Jornal da SOCESP e o Boletim Científico, estando previstas outras iniciativas de avançada tecnologia, principalmente na área de educação médica continuada em Cardiologia. Finalmente o NIB deu consultoria tecnológica abalizada para outros projetos da Biosintética relacionados ao comércio eletrônico e aos processos de comunicação interna com a força de vendas, além de um suporte aos ensaios clínicos realizados em colaboração com institutos de pesquisa como o Instituto de Cardiologia "Dante Pazzanese". Na área de eventos, o NIB participou com seu pessoal em numerosos congressos científicos, colaborando com a Biosintética em seu "stand" para exposição dos médicos ao mundo da Informática e da Internet, inclusive ministrando minicursos, como no último congresso da SOCESP, em 1998. Esta cooperação continua ininterrupta por quase três anos, com extraordinários frutos para ambos os lados, e constitui-se em um exemplo a ser imitado por outras indústrias farmacêuticas. Não é o único modelo, mas certamente é um dos que mais apresentam resultados entusiasmantes, por não se constituir simplesmente em uma relação de prestação de serviços Para Saber MaisJäger, M. e Sabbatini, R.M.E. - O Hospital Virtual Brasileiro. Revista Informática Médica, 1(5): 18-20, 1998. Moretti, P. e Zanini, A C. - A Farmácia Virtual. Revista Intermedic 1(2): 15-16, 1997. Cardoso, S.H. - A revista Cérebro & Mente. Revista Intermedic 1(3): 15-16, 1997. AgradecimentoO autor gostaria de tornar público neste artigo o seu enorme pleito de gratidão, e o respeito e a admiração pelo Sr. Omilton Visconde, presidente da Biosintética, ao qual deseja prestar uma homenagem "in memorian". Através de seus filhos e sucessores, seu espírito idealista e de colaboração aberta certamente continuará.
O AutorRenato M.E. Sabbatini é diretor do NIB/UNICAMP, professor de Informática Médica da Faculdade de Ciências Médicas e editor das revistas Intermedic e Informática Médica. Email: renato@sabbatini.com |
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