Revista de Informatica Medica
Vol. 1 No. 6 Nov/Dez 1998

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Correio Eletrônico pela WWW

Michael Hogarth

O correio eletrônico (email), é um recurso revolucionário de comunicação das pessoas através das redes de computadores, e que até hoje é considerado o aplicativo definitivo e fundamental da Internet. Em novembro de 1996, o número de mensagens de email que transitou na Internet foi da ordem de 1 bilhão por mês. Hoje deve ser três vezes mais.

Como funciona o email ? Em um artigo anterior na revista Intermedic, expliquei com detalhes todas as suas características e as diversas maneiras de usá-lo. A maioria dos sistemas de email ainda utiliza um protocolo da Internet chamado Simple Mail Transfer Protocol (SMTP). Um protocolo é uma espécie de "gramática" de uma rede de computadores, que estabelece regras comuns sobre como dois computadores devem se comunicar para intercambiar informação. As mensagens são armazenadas em computadores hospedeiros de email, ou servidores, que trabalham com outro protocolo, chamado Post Office Protocol (POP). Ambos os protocolos tem feito parte integral da comunidade da Internet por mais de uma década e são abertos, ou não proprietários (exclusivos de uma empresa, por exemplo), o que os permite serem implementados por praticamente todos os fabricantes de software para acesso à Internet.

Consequentemente, muitas instituições de saúde utilizam programas de acesso (chamados de clientes, como o Eudora, o Pegasus Mail, o Netscape Mail, o Internet Explorer Mail, etc) e programas de serviço, que implementam estes protocolos. A um primeiro relance, isso pode parecer ideal. No entanto, o protocolo POP tem uma série de desvantagens para o usuário clínico que tende a ser "nômade", ou seja, não tem uso exclusivo de um computador para si, onde trabalha, ou que está sempre em vários lugares distintos e não deseja perder contato com seu email.

O protocolo POP é bastante simplificado. Ele trabalha com um único diretório no servidor de email para cada usuário, o qual é chamado de "Inbox". As mensagens podem ser mantidas apenas nesse diretório e descarregadas para um cliente de email POP como o Eudora, da empresa Qualcomm. Isso significa que os usuários do POP precisam ter um computador único onde as mensagens serão descarregadas e arquivadas em pastas para armazenameno a longo prazo. Em outras palavras, o uso "nômade" do POP é problemático. O seguinte relato ilustra bem este ponto.

Os Protocolos do Email

Existem três protocolos de correio eletrônico baseados na Internet. O primeiro e mais antigo, Simple Mail Transfer Protocol (SMTP) é responsável apenas pelo envio de mensagens entre duas contas de usuários do email. Os dois protocolos restantes gerenciam o acesso off-line às mensagens que chegaram à conta do usuário de email. "Off-line", no caso, significa que o usuário utiliza um software especial (programa cliente de email) para conectar-se à conta do servidor a qualquer momento e descarregar as mensagens que estão na fila de chegada desde a última vez que acessou. Estes dois protocolos de "servidor de email" são o Post Office Protocol (POP) e o Internet Message Access Protocol (IMAP). O mais antigo e melhor conhecido é o POP, o qual foi originalmente definido em um documento chamado RFC-918, de outubro de 1984. . Pesquisadores da Stanford University publicaram o IMAP no RFC-1064, em julho de 1988. A principal diferença entre os dois reside na capacidade de colocar mensagens remotas em pastas. Ambos usam um "inbox", mas o IMAP também permite a criação de pastas no servidor, proporcionando o armazenamento de mensagens no mesmo. IMAP é o preferido para usuários móveis e foi projetado para ser baseado totalmente no servidor. No entanto, ele tem sido vagaroso em penetrar no mercado comercial, particularmente para servidores baseados em Windows NT e Novell NetWare; o que limita sua aceitabilidade.

Quando o POP é Ineficiente

Suponhamos que você está longe do seu consultório ou escritório, mas necessita checar seu email. Você está no hospital, a poucos passos de um PC que tem o Internet Explorer, e que permite que você use um programa interno de acesso a uma conta POP de email. A façanha, entretanto, exige vários passos pouco intuitivos, tal como reconfigurar as informações básicas da conta, incluindo o endereço do servidor na Internet, o endereço completo da conta e o tipo de protocolo usado. Felizmente, você já sabia como fazer tudo isso, pois tinha lido um livro sobre o assunto na sua hora de folga! Ao terminar de entrar toda a informação necessária, você clica no botão "Get Mail" e, como se fosse mágica, as mensaagens de email começam a ser descarregadas para a pasta "Inbox" do programa padrão de email do Windows 95, que é o Microsoft Outlook., o qual frequentemente é instalado juntamente com o Internet Explorer. Tudo parece estar funcionando normalmente. No entanto, sem que você saiba, o programa apagou as mensagens do seu servidor de email (este é o modo predefinido de operação do Outlook) e as armazenou na máquina que você está usando, para todo mundo ler Para completar a desgraça, a não ser que você não se esqueça de apagar as informações de configuração do Internet Explorer, o que levou uma eternidade para entrar, o próximo usuário do microcomputador poderá descarregar inadvertidamente todo o seu email, que então desaparecerá do servidor. Dificilmente podemos considerar esta situação como ideal, no entanto o cenário se repete centenas de vezes por dia em muitas instituições.

Como o caso acima deixou claro, nem os protocolos da Internet, nem os projetistas de software conseguiram um bom trabalho quanto à facultar ao usuário um isolamento das peculiaredades de certos sistemas de correio eletrônico pela Internet. Se você quiser conhecer com mais detalhes técnicos os problemas associados ao uso do POP por usuários com grande modalidade, consulte

Apoiando Usuários Móveis com o Webmail

Qual a solução então? É dispor de um serviço chamado webmail, ou "web-based e-mail" (correio eletrônico baseado na WWW). Esta é a alternativa mais segura, mais rápida, e a que tem mais chances de funcionar em qualquer situação. Muitos provedores já estão oferecendo gratuitamente este serviço ao seus assinantes. A interface de uso é muito semelhante ao dos programas especializados em leitura de e-mail, com a vantagem de ser inteiramente baseada em hipertexto, na Web. O usuário precisa se registrar com sua identidade (login) e senha próprios, e fornecer dados para que o sistema reconheça o servidor POP onde ele tem sua conta normal. Cada vez que se entra na home-page do serviço, o sistema acessa esse servidor e descarrega todas as mensagens de e-mail, permitindo também outras funções, como redirecionamento, resposta, arquivamento em pastas, etc.

Mesmo se você não tiver nenhuma conta de e-mail POP3, existem inúmeros serviços de e-mail gratuitos na Internet. O mais conhecido é o HotMail, que foi comprado pela Microsoft e que tem mais de 13 milhões de usuários em todo mundo (veja quadro). Por exemplo, eu tenho várias contas POP em meu nome, em servidores da minha universidade e outros. Tenho também uma conta no HotMail, a qual configurei para ler todas as demais. Assim, quando estou fora de minha cidade, é muito fácil entrar na WWW, entrar no site da HotMail e ler e responder a todas as mensagens que estão em minhas várias contas pessoais.

O HotMail é um dos mais conhecidos serviços de WebMail da Internet.

Segurança e Confidencialidade

Embora os provedores comerciais ofereçam serviços de webmail robustos, o uso para aplicações clínicas pode deixar dúvidas quanto ao assunto de segurança e confidencialidade. Eles podem assegurar você que eles não vão ler o seu email, mas como você não tem domínio sobre o servidor, nunca se pode estar seguro. Além disso, nem todas as instituições têm acesso à Internet, o que seria necessário para poder se conectar a servidores WWW externos. Portanto, seria desejável, em função dessas duas preocupações, que a instituição de assistência à saúde tivesse um computador próprio contando com um sistema de webmail POP em sua intranet (rede local de computadores que funciona com o mesmo paradigma da Internet).

Para esta finalidade, em 1995, o Dr. José Galvez e eu escrevemos um programa simples na linguagem PERL que habilita contas de email POP para acesso via a WWW. O software está disponível gratuitamente na Internet e atualmente é utilizado por várias empresas e instituições em todo o mundo. O programa serve como um cliente intermediário para a conta POP quando se faz uma solicitação de acesso via um visualizador da Web (Netscape Navigator, Internet Explorer, etc.). Portanto, ele é, essencialmente, um habilitador de contas de email POP através da interface normal de hipertexto . Nosso software foi projetado de modo a dar acesso remoto às contas POP, possibilitando a realização de operações simples, ao invés de substituir o seu cliente POP normal. Um programa semelhante em PERL foi colocado no domínio público como freeware pela empresa Endymion Corporation (http://www.endymion.com/home.htm). Como ambos estão escritos em PERL, eles podem ser implementados em servidores UNIX, Windows NT ou mesmo Windows 95. A única exigência é que o servidor onde ele for colocado esteja executando um servidor WWW e o interpretador PERL 5 esteja instalado (pode ser conseguido gratuitamente em http://www.perl.org)

A Vantagem do Browser

Usar um browser da Web como cliente do correio eletrônico impõe algumas limitações quanto às capacidades da interface do usuário, porém traz diversas vantagens sobre os programas de acesso ao email tradicionais. Por exemplo, se os usuários quiserem enviar mensagens de email formatadas como uma página em HTML (a linguagem de formatação da Web), o browser será capaz de visualizá-los de acordo com esses comandos (por exemplo, negrito, várias cores e fontes de letras, etc.), inclusive sendo capaz de exibir imagens colocadas no meio do texto. Desta maneira, podemos colocar dentro da nossa mensagem de email vínculos para qualquer tipo de arquivo que seja apoiado pelo padrão MIME de email (Multimedia Internet Mail Extensions).

Um exemplo seria um videoclipe em QuickTime (um padrão internacional criado pela Apple, e que se caracteriza pela extensão de arquivo .QT), um som, ou outro tipo qualquer de multimídia. Como a mensagem de correio eletrônico está sendo transmitida em HTML e visualizada pelo browser, uma chamada para um filme em QuickTime irá invocar o plug-in correspondente nomeado pelo browser (plug-in é um programa externo, que o usuário precisa instalar no browser), da mesma maneira como ocorre com uma página da Web normal que tivesse essa chamada. O simples fato de que um browser da Web é utilizado como um "leitor" significa, portanto que ele pode habilitar acesso a multimídia com relativa facilitade.

Uma vantagem adicional do webmail é que os anexos ("attachments", em inglês, ou seja, os arquivos que se pode enviar juntos com uma mensagem de email) são mostrados como links ao arquivo, ao invés do arquivo propriamente dito. Eles indicam o local do disco rígido onde foram descarregados. Isso economiza espaço e velocidade de acesso, principalmente quando o arquivo original continua no servidor indicado pelo link. O leitor terá então a opção e acessar esse arquivo no servidor, ao invés de ser forçado a descarregá-lo, como parte da mensagem. Finalmente, o uso de uma interface baseado no browser de WWW esconde do usuário a complexidade o protocolo de email utilizado.

Se todo o sistema de email da Internet fosse baseado em uma interface desse tipo, os usuários não precisariam saber os detalhes de quais protocolos estão sendo usados pelo seu servidor, a fim de configurar o programa de acesso ao email. Infelizmente, muitos desses softwares exigem que os usuários tenham um conhecimento sobre as nuances do POP e do SMTP de modo a poder configurar os parâmetros corretamente

Conclusões

A Internet é um ambiente que muda rapidamente. Existe pouca dúvida de que novos protocolos de correio eletrônico estejam sendo desenvolvidos nesse momento que irão resolver os problemas do POP. O protocolo IMAP já representa uma dramática melhoria sobre o POP e está encontrando uma aceitação cada vez maior. No entanto, o POP ainda predomina, e ficará conosco por um certo tempo. Isso nos leva a conclior que o uso do webmail deve receber forte consideração por parte do adoministrador do sistema, quando for disponibilizar acesso a correio eletrônico para usuários "nômades" em um ambiente clínico

Para Saber Mais

Comparing Two Approaches to Remote Mailbox Access: IMAP vs. POP: http://www.imap.org/imap.vs.pop.brief.html

The IMAP Connection: http://www.imap. org/

Message Access Paradigms and Protocols: ftp://ftp.cac.washington.edu/mail/imap.vs.pop

Internet Message Access Protocol. Version 4: http://andrew2.andrew.cmu. edu/rfc/rfc2060

Endereços na Internet

Software para WebMail

QD-POP: http://informatics.ucdmc.ucdavis.edu/qdpop/qdpop.htm

Endymion's Mailman.pl: http://www.endymion.com

Serviços de WebMail

HotMail: http://www.hotmail.com

Yahoo Mail: http://www.yahoo.com

Altavista Mail: http://www.altavista.com

Mail Excite: http://mailexcite.com/

ZipMail: http://www.zipmail.com.br

GeoCities: http://www.geocities.com

MailCity: http://www.mailcity.com

Netscape: http://www.netscape.com

NetAddress: http://www.netaddress.com

StarMedia: http://www.starmedia.com

O Autor

Michael Hogarth, MD, é pesquisador associado em Informática Médica do Centro Médico da Universidade da Califórnia em Davis, EUA. É também membro do Internet Working Group da AMIA, e membro do corpo editorial da revista Intermedic. Email: mahogarth@ ucdavis.edu

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© 1998 Renato M.E. Sabbatini
Núcleo de Informática Biomédica
Universidade Estadual de Campinas
Campinas, Brasil

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