Vol. 1 No. 1 Jan/Fev 1998
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Internet em Medicina: Os Recursos 

Renato M.E. Sabbatini

A Internet é uma rede global de computadores que cobre hoje uma boa parte do mundo habitado. Graças ao impressionante progresso tecnológico representado pelas telecomunicações e pela Informática, tornou-se um fenômeno de massa ímpar na história da ciência. Estimava-se em janeiro de 1998 que ela englobava cerca de 23 milhões de computadores e mais de 100 milhões de usuários. Embora a taxa de crescimento da Internet tenha diminuido recentemente, ela está dobrando em número de computadores e de usuários a cada ano, sendo que o volume de informação disponível está dobrando a cada seis meses. Continuando a presente taxa de crescimento, existirão 100 milhões de computadores na Internet em janeiro do ano 2000. 

O armazenamento e a transmissão de informação através dessa rede representa, sem dúvida, uma nova revolução científica, tecnológica, social e econômica, equivalente à invenção da imprensa tipográfica, por Johannes Gutenberg, mais de 400 anos atrás. É também um novo paradigma para o famoso conceito de "aldeia global" proposto nos anos 70 pelo comunicólogo canadense Marshall McLuhan. Uma de suas principais características é a sua heterogeneidade, ou seja, qualquer computador, de qualquer marca ou 

tecnologia pode ser conectado aos demais através da Internet, utilizando uma linguagem comum de comunicação, chamada TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol). Isso a torna verdadeiramente universal e acessível para todos. 

O volume e a variedade de informações disponíveis na Internet sobre assuntos relacionados à medicina e à saúde é imenso, e não para de crescer, mas podem ser considerado ainda pequenos, quando comparados com seu real potencial (atualmente apenas 2 % da população do planeta usa a Internet !). A Internet nos oferece não apenas os tipos de informação médica presentes nos meios tradicionais impressos, tais como textos e imagens de artigos científicos e clínicos, revistas, jornais, boletins, manuais, relatórios técnicos e de casos, livros, listas e catálogos, etc., mas também outros meios digitais, tais como gravações de áudio e vídeo, desenhos animados, imagens e textos interativos, etc. Nos países mais desenvolvidos, já é significativa a participação dos profissionais da saúde na rede. Apenas um serviço de fornecimento de informações científicas, o MedScape, tem mais de 400.000 usuários cadastrados, de mais de 80 paises. 

No primeiro aspecto, a rede serve simplesmente como um veículo de acesso mais rápido e conveniente à informação médica disponível, sendo que a principal inovação oferecida pela Internet é a capacidade de realizar pesquisas eletrônicas e localização das fontes de informação de forma muito rápida. No segundo aspecto, a Internet, principalmente através da World Wide Web (WWW) têm características semelhantes à outros produtos de integração de multimídias, tais como os CD-ROMs. 

O grande potencial revolucionário na Internet, contudo, repousa em três pontos importantes: sua interatividade, sua conectividade global, e sua independência da localização geográfica. Como tal, poder-se-ia pensar na Internet como um espécie de computador gigantesco e de alcance mundial, com capacidade de armazenamento ilimitada, que podemos usar em qualquer lugar, a qualquer hora. Não importa realmente, por exemplo, se dois médicos que estão consultando um paciente na rede, enviando e recebendo radiografias ou ECGs, e conversando entre si através de canais de voz, estão localizados em salas ao lado do mesmo prédio ou a 20.000 km de distância. A interação da sala de aula, a conversa telefônica, a TV interativa, a videoconferência e a conversação entre duas pessoas quaisquer são agora possíveis via Internet. Na área da saúde, estas novas ferramentas ainda são pouco utilizadas, mas detêm um potencial enorme e ainda não completamente conhecido para novas aplicações. 

A Internet tem tantos recursos de informação e interação, é tão fácil e barata de usar, e introduz tantas mudanças importantes na educação, pesquisa e assistência em medicina, que passou a ser indispensável para o médico moderno aprender a usá-la em seu dia a dia. Neste artigo, revisaremos sucintamente como estão as aplicações da Internet em Medicina e Saúde. Seria simplesmente impossível fazer uma descrição exaustiva, primeiro, porque ele é vasta e abrangente demais; segundo, porque ficaria instantaneamente obsoleto. Para se procurar mais informações detalhadas sobre recursos disponíveis em saúde, o leitor deve se dirigir à bibliografia, assim como aos catálogos eletrônicos disponíveis na própria Internet 

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A Tecnologia da Internet 

A Internet funciona com base em uma tecnologia relativamente simples, que é denominada rede cliente-servidor. Alguns computadores ligados à rede, chamado servidores, executam serviços de armazenamento e distribuição de dados para outros computadores, muito mais numerosos, que podem requisitá-la, chamados clientes. Por exemplo, o seu microcomputador ligado à Internet, em sua casa, é um cliente. O computador da UNICAMP é um servidor. A transferência de dados entre ambos se dá através de uma conexão física (fios, cabos, satélite, microondas, etc.) chamada ponto-a-ponto, através da rede totalmente interconectada através do mundo. Como um computador sabe para onde enviar uma informação ou onde achá-la. É simples: a Internet tem um sistema de endereços chamados IP (Internet Protocol), que se traduz em um nome simbólico para cada endereço. Por exemplo, o nome do servidor WWW da UNICAMP é www.unicamp.br. O endereço do meu correio eletrônico é sabbatin@nib. unicamp.br. 

Além disso, a comunicação entre dois computadores quaisquer ligados à rede necessita de programas especiais (software) tanto do lado do servidor quanto do lado do cliente. Ambos utilizam uma espécie de "linguagem" comum de comunicação, que se chama protocolo. Na Internet existem protocolos para odos os tipos de serviços e acessos, mas o protocolo básico é o TCP/IP, como já explicamos. 

Além do correio eletrônico, o protocolo mais usado da Internet na atualidade se chama HTTP (HyperText Transfer Protocol), que é a base da World Wide Web (WWW ou Web), que é o serviço que permite transmitir multimídia (texto, imagens, sons, vídeos, etc) e hipertexto (texto interligado entre si através de vínculos, ou "links"). A Web surgiu há apenas cinco anos atrás, e permitiu o desenvolvimento de publicações eletrônicas de alta qualidade. 

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Publicações Eletrônicas: A Essência 

A Internet oferece publicamente uma impressionante variedade de dados e informações, acondicionados de inúmeras maneiras. O modelo tradicional de publicações periódicas impressas (revistas médicas), que têm também edições on-line, coexiste com publicações aperiódicas, ou contínuas, que só existem na Internet, e até simples repositórios de "papers" sem nenhuma sistematização na forma de revista. O número desses três tipos de publicações médicas explodiu em número nos últimos dois anos, atingindo atualmente (janeiro de 1998) mais de 1.400 títulos, crescendo em uma velocidade extraordinária. Não vai demorar muito para praticamente todas as publicações médicas existentes estarem na Internet. Para ver alguns exemplos nacionais, visite os sites do Brazilian Journal of Medical and Biological Research (http://www.epub.org.br/bjmbr) e da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (http://www.socesp.org.br). 

Exemplo de publicação eletrônica na Internet

Da mesma forma, existem diversas maneiras de disponibilizar o conteúdo dessas revistas na Internet. Existem sites de revistas na Web que contém apenas a lista de artigos publicados na edição em papel. Outras revistas colocam além disso os resumos completos dos artigos publicados, e, ocasionalmente, o texto completo de alguns artigos selecionados. Finalmente, existem revistas que disponibilizam o texto completo de todos os artigos. O acesso pode ser gratuito, pago por artigo lido, ou pago por assinatura de uma revista ou grupo de revistas. O modelo econômico ainda não está claro. Como saber quais as revistas que já estão disponíveis na Internet ? Existem alguns índices como o WWW Virtual Library, Electronic Journals, que contém uma base de dados (WILMA) com todas as revistas indexadas e não indexadas. O endereço é http://www.edoc.com/ejournals. Mas, o MedWeb Electronic Journals (http://www.cc.emory.edu/WHSCL/medweb.html), é o que se considera o mais completo índice de revistas eletrônicas em medicina e saúde, divididas por especialidade. Uma lista atualizada dos periódicos médicos brasileiros on-line pode ser encontrado na revista Intermedic, no Catálogo Brasileiro de Medicina e Saúde na Internet (http://www.informaticamedica.org.br/intermedic/links/cb_p. htm). 

Existem vários projetos interessantes de publicação eletrônica no mundo, tais como o HighWire Press (http://highwire. stanford.edu), e o Grupo e*pub, do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, que é o maior editor brasileiro de revistas eletrônicas, ajudando as editoras e as sociedades médicas a colocarem suas publicações na Internet (http://www.epub.org.br/). 

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Procurando Informação Médica 

O crescimento fenomenal da Internet tem colocado muitas dificuldades para o estudante ou profissional de saúde que deseja localizar informações específicas sobre algum assunto. São centenas de milhares de documentos contendo informação médica na Internet, e a taxa de crescimento mensal é muito alta. A solução, então, é utilizar serviços na própria Internet, que nos permitam localizar a informação desejada, da maneira mais rápida e precisa possível. 

A forma mais consagrada de procurar informações altamente específicas na Internet, dessa maneira, é utilizar os dois tipos básicos de recursos de indexação on-line secundária existentes: os catálogos e os índices (também chamados de mecanismos de busca). O catálogo contém coleções de links (o endereço de um determinado recurso na Internet, ou seja, o seu nome e onde ele pode ser encontrado), que são categorizados ou subdivididos em diversos tópicos e subtópicos. O mais conhecido e utilizado de todos é o Yahoo! . Para sites brasileiros, o seu equivalente mais conhecido é o Cadê?

Os índices, por sua vez, enfatizam o oferecimento de um serviço abrangente de busca de informação, que geralmente indexa, palavra por palavra, cada um dos documentos existentes na Internet e na Web. Funcionam através de combinações de palavras-chave fornecidas pelo usuário. Os índices gerais acumulam um número gigantesco de páginas e de palavras indexadas. Por exemplo, um dos mais completos, indexa atualmente cerca de 54 milhões de páginas na WWW, com um total de 10 bilhões de palavras, que podem ser encontrados em mais de 600 mil servidores em todo o mundo ! Os mais conhecidos são o Altavista e o HotBot
 
 


Medical Matrix, um dos melhores catálogos de recursos médicos na Internet


PubMed é o site de pesquisa bibliográfica gratuita no MEDLINE e outros índices bibliográficos em Saúde 
 

Finalmente, existem soluções para quem deseja realizar uma busca mais inteligente e completa, através de catálogos e índices especializados na área médica. Eles têm muito mais links, e o esquema de classificação geralmente é mais bem feito e especializado. Existem centenas de índices e catálogos desse tipo. Veja o artigo "Procurando Informações Médicas na Internet", no número 1 da revista Intermedic. Eles podem ser classificados em quatro tipos: catálogos gerais com subdivisão em Medicina (categorizados por especialidade e tipo de informação. Exemplo: Yahoo! Health), catálogos médicos gerais (exemplos: Achoo, HealthWeb, Medical Matrix, MedWeb, Virtual Medical Center, Health AtoZ, CliniWeb, etc.), mecanismos de busca especializados (exemplo: World Medical Search) e catálogos médicos especializados, que se direcionam a uma área específica de especialidade (Exemplos: Neurosciences in the Internet, Ophtalmology Web, etc.). Existem ainda os metacatálogos, que são catálogos de catálogos e índices. O mais conhecido é o Hardin Meta Index

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Pesquisando a Bibliografia 

O acesso rápido e atualizado à informação científica é de fundamental importância para a Medicina, ao enorme volume acumulado de saber. Nas duas últimas décadas, a colocação de bases de dados bibliográficos em forma comunicações médicas do mundo, semanalmente. Três bons exemplos são o MedReporter, nacional, feito pela mesma turma de estudantes e médicos da UFRJ, o WebMedLit, que resume os trabalhos publicados em mais de 20 das mais importantes revistas médicas internacionais, e o International Medical News

Se nada funcionar, antes de programar sua visita a uma biblioteca real, consulte as bibliotecas virtuais. Sim, é isso mesmo: é cada vez maior o número de bibliotecas médica que dão acesso aos seus servidores, como, no Brasil, o Sistema de Bibliotecas da UNICAMP e da USP, que permite consultar gratuitamente através da Internet o acervo de livros, teses e revistas disponíveis. Veja o site do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia para uma relação de bibliotecas virtuais e projetos em todo o mundo. Outra alternativa é utilizar os serviços de sites na Internet que se especializam em localizar e mandar para você qualquer artigo científico publicado em papel. Um bom exemplo é o UnCoverWeb, bem caro, por sinal. 

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A WWW na Medicina e a Medicina na WWW 

Não existe nada que impeça que alguém coloque informação para acesso público na Internet. Afinal ela foi feita exatamente para isso. E esse é a origem de todos os bens e de todos os males da Internet, putadorizada, como o famoso MEDLINE, revolucionou e popularizou o acesso à literatura médica, com muitas vantagens: a base de dados on-line está sempre atualizada com as últimas referências, todos os anos estão acumulados em um único arquivo,. e atualmente seu uso é gratuito através da Internet em vários serviços, como o PubMed da National Library of Medicine. 

A pesquisa bibliográfica pelo MEDLINE é muito simples. Basta apontar o seu programa para o endereço do Pub Med e preencher os campos com as palavras-chave desejadas. O computador da NLM responde depois de poucos segundos, com uma lista de todos os trabalhos que satisfazem o critério de busca. Clicando sobre essas referências, tem-se acesso aos resumos (abstracts) dos trabalhos, e, em alguns serviços pode-se encomendar uma fotocópia do artigo, pagando-se com cartão de crédito internacional. No Brasil, o representante oficial do MEDLINE é o Centro de Informações em Saúde para a América Latina e Caribe (BIREME), que tem um serviço próprio (pago) de acesso via Internet, onde também se pode solicitar separatas, por um preço não tão caro quantos os serviços internacionais. 

Aliás, como muitas revistas médicas também estão sendo colocadas na Internet, no futuro será cada vez mais fácil localizar os artigos pesquisados através da rede. O MEDLINE ainda não inclui links para todos os artigos completos on-line, mas falta pouco para isso (para mais detalhes, veja o artigo "Pesquisa Bibliográfica na Internet", no número 2 da revista Intermedic. Enquanto isso não acontece, para facilitar a vida do médico que quer se manter atualizado, existem sites de notícias médicas, e até de "clubes de referata" (journal clubs), onde são resenhadas as principais publicações, principalmente quanto à seletividade e qualidade da informação. Mas esse é um outro assunto, muito importante, que vamos deixar para depois. O mais relevante, agora, é entender que esse mecanismo facilitador gerou um enorme "boom" de autopublicação nas mais variadas e criativas e abrangentes categorias que se pode imaginar. A onda que carregou essa revolução é a World Wide Web, pela atratividade de apresentação multimídia e pela facilidade com que se interliga as informações,através do hipertexto. Assim, podemos encontrar hoje na Internet informações sobre praticamente todos os temas em medicina e saúde. Alguns exemplos: 

Sites ou home pages descritivos de sociedades e associações médicas, conselhos, sindicatos, grupos de trabalho e de estudos, institutos de pesquisa, faculdades, departamentos, laboratórios, clínicas, hospitais, ministérios, secretarias e serviços públicos de saúde, grupos de ação social, ONGs e fundações na área da saúde, empresas farmacêuticas, software e equipamentos, de serviços e consultoria, editoras especializadas, seguradoras e cooperativas médicas, pesquisadores, professores, profissionais e estudantes individuais. Para ver alguns exemplos brasileiros, visite os sites da Associação Médica Brasileira, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, dos Laboratórios Biosintética, da Fundação Oswaldo Cruz, da UNIMED, da Escola Paulista de Medicina, do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, do Grupo de Apoio à AIDS, dos Laboratórios Fleury, da Unidade Radiológica Paulista e da Braile Biomédica

Sites contendo informações, compilações, relações de apontadores, etc., em áreas de variada especificidade e profundidade em medicina e saúde, tais como sites sober diabetes (do ponto de vista do médico ou do paciente), doença de Parkinson e Alzheimer, depressão, AIDS, câncer, oftalmologia, cardiologia, urologia, etc. 

Coletâneas de artigos, bancos de dados textuais, de imagens, de sons e de sinais biológicos, repositórios de dados de pesquisa clínica, de bases de dados bibliográficos, epidemiológicos, normativos, e etc. Através de programas especiais de gerenciamento de bases de dados e de indexação que funcionam através da Internet, é possível ao usuário consultar essas bases e ordenar pesquisas específicas, com resultados personalizados. Um exemplo é a Farmácia Virtual, desenvolviida pelo Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, pelo Grupo Zanini-Oga e pelos Laboratórios Biosintética. A FV contém dado sumários sobre 7 mil medicamentos comercializados no Brasil, e pode ser pesquisada por palavras-chave de acordo com o nome coemercial, princípio genérico, laboratório fabricante, etc. 

Existem diversos projetos interessntes na Internet que procuram estabelecer uma espécie de "comunidade médica virtual", ou seja, uma estrutura comum através da qual as pessoas possam interagir à distância, colocar e usar informações, estabelecer formas de diálogo, etc. O Virtual Hospital desenvolvido pela Universidade de Iowa foi o primeiro deles. O Hospital Virtual Brasileiro, também desenvolvido pelo NIB/UNICAMP, é um bom exemplo deste tipo de comunidade. Ele funciona como um portão de acesso à Internet médica, utilizando para isso a metáfora de um hospital, ou seja, a subdivisão em especialidades. 
 

Tela de acesso principal do Hospital Virtual Brasileiro, um projeto do NIB/UNICAMP


A Farmácia Virtual faz parte do HVB e é um banco de dados sobre medicamentos que pode ser pesquisado 

Finalmente, todo o potencial interativo da Internet e da WWW está começando a ser utilizado para aplicações mais avançadas, tais como apoio à decisão médica, telemedicina, aplicações no ensino à distância, realidade virtual e outras. 

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Apoio à Decisão Médica 

A possibilidade de se implementar interatividade on-line, ou seja, uma espécie de diálogo condicional entre dois pontos remotos da rede, aumenta enormemente a utilidade médica da Internet, se em uma das pontas estiver respondendo um software "inteligente", ou seja, capaz de implementar automaticamente esse diálogo. Isso pode assumir graus crescentes de complexidade e inteligência, como demonstram os exemplos a seguir: 

· Programas simples para realização de cálculos comuns na prática médica, tais como área corporal (MedStudents), ou parâmetros de avaliação de sobrevida a um ataque cardíaco, permitem a entrada on-line de dados por meio de formulários interativos na Web, com exibição imediata dos resultados 

· Questionários de anamnese auto-aplicados, que registram as respostas dadas pelo usuário, enviam o resultado para o avaliador, e respondem imediatamente com o escore e a interpretação, como o que foi desenvolvido pela Revista `Cérebro & Mente" da UNICAMP. para avaliação da ansiedade, ou o programa de avaliação de risco de diabetes, no site Health O@sis, da Mayo Clinic 

· Programas que são mais complexos do ponto de vista da Inteligência Artificial (IA), colocam através da rede a capacidade de um sistema especialista, para apoio ao diagnóstico em Medicina, como o software DXPlain, desenvolvido pela Universidade de Harvard, que é capaz de sugerir mais de 900 diagnósticos com base em milhares de sinais, sintomas, manifestações e resultados de exames especializados, fornecidos pelo usuário. 

Calculadora on-line da área corporal desenvolvida em Java (Med Students) 

Uma das tecnologias mais modernas de IA são as redes neurais artificiais, que imitam como o nosso cérebro funciona. Um sistema desenvolvido na UNICAMP realiza através da rede o prognóstico de casos reais de trauma craniencefálico, assim como recomenda ou não a realização de craniotomia. Para aumentar a utilidade do programa para o aprendizado, ele está associado a um livro eletrônico sobre o tema, com imagens tomográficas de casos típicos encontrados pelo clínico.

Sistema de apoio à decisão em trauma craniencefálico através da WWW, usando redes neurais artificiais.

Vários dos programas exemplificados foram desenvolvidos utilizando-se uma nova e revolucionária linguagem de programação de computadores chamada Java. Ela foi desenvolvida justamente para facilitar o envio e execução remota e distribuída de programas através da Web. O programinha (em inglês: applet) para calcular a área corporal, por exemplo, vem embutido em uma home-page que é descarregada ao se visitar o site em questão, e executa automaticamente ao ser visualizada a página. Tudo isso é transparente para o usuário. 

É brilhante o futuro deste tipo de aplicação médica na Internet, pois permite realizar um antigo sonho dos informatas médicos: disponibilizar e disseminar cada vez mais o uso fácil, barato e descomplicado de sistemas de apoio à decisão médica em um contexto clínico real. 

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Aprendendo na Internet 

A Internet é a maior inovação educacional deste século. Apesar de tudo o que se fala a respeito do "lixo" e das coisas irrelevantes e até ofensivas que se acha na grande rede, a verdade é que seu maior valor é no aprendizado. Para os estudantes e profissionais da saúde, os recursos educacionais disponíveis na Internet são gigantescos, e já é difícil conseguir conhecer até os mais importantes. Um número grande de departamentos, faculdades e universidades, associações científicas, etc., estão colocando sites e publicações eletrônicas, etc., voltados para a educação a distância. Nem todos os tipos de cursos, evidentemente, podem ser ensinados dessa forma, mas a conveniência para o aprendiz, que não precisa deslocar-se de sua própria casa ou consultório, e pode progredir no curso de acordo com seu próprio ritmo, é muito grande. Já existem várias instituições americanas que estão dando créditos oficiais de educação médica continuada através da Internet. Existem também cursos de graduação e pós-graduação. No Brasil, a Universidade Federal de São Paulo (EPM) é a pioneira nesta área, oferecendo já dois cursos à distância através da Web na área da saúde, sendo um de nutrição e outro de dermatologia. A UNICAMP, através da Faculdade de Ciências Médicas, em colaboração com o Núcleo de Informática Biomédica também oferece uma disciplina de pós-graduação sobre aplicações do computador na educação médica (veja matérias a respeito neste número) e pretende oferecer em 1998 um curso de especialização em Informática em Saúde.

Caso clínico interativo em radiologia (MedScape, EUA)
 

Uma das aplicações mais interessantes da Internet no ensino médico diz respeito à apresentação interativa e não interativa de casos clínicos. Eles podem ser uma coisa relativamente simples, como em uma revista médica, com textos, imagens, etc. (por exemplo, veja a relação de casos clínicos do Hospital Virtual Brasileiro ou então ter elementos de interatividade como os casos clínicos do MedScape e o Paciente Interativo, da Universidade Marshall. Através deles o aluno aprende a resolver casos clínicos na base da tentativa e erro. 

Outro recurso educacional muito útil é representado pelos bancos de imagens, os quais existem em grande quantidade na Internet médica. Através deles se tem acesso à lâminas histológicas, preparações cadavéricas, peças patológicas, fotos de pacientes, radiografias e outros tipos de imagens médicas não invasivas, etc. Um dos mais conhecidos é o WebPath, um site de ensino em patologia desenvolvido pela Universidade de Utah. Este site também tem um bom exemplo de um outro recurso importante na educação interativa através da Internet, que são os questuionários interativos, contendo perguntas da matéria. 

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Recebendo em Sua Casa 

A grande novidade da Internet em matéria de disseminação de informação é a tecnologia "push", também chamada de "webcasting". Seu princípio é simples: ao invés de você ter que visitar um site para ver o que há de novo, essa tecnologia envia para o seu computador os textos e imagens dos serviços de informação que você tier escolhido. Utilizando um programa especial, como o PointCast (http://www.pointcast.com), ou as últimas versões dos programas Netscape ou Internet Explorer, você pode mais tarde visualizar essas notícias, sem necessidade de estar conectado à Internet. Já existem vários "canais" de informação médica disponiveis nessa nova tecnologia, como o InteliHealth, o Reuters Health e outros (veja uma lista deles em http://www.pushcentral.com). Leia também os artigos sobre PointCast e sobre a tecnologia "push" na revista Intermedic. 

No próximo número de Informática Médica daremos prosseguimento à segunda parte deste artigo, com mais recursos médicos interessantes na Internet ! 


Sistema de acesso PointCast 

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Para Saber Mais 

1. Malet, G.: Aplicações Clínicas da Internet na Medicina. Revista Intermedic Vol. 1 No. 1, 1997. 

4. Sabbatini, R.M.E.: Procurando Informações Médicas na Internet. Revista Intermedic, Vol. 1 No. 1, 1997 

5. Sabbatini, R.M.E.: Pesquisa Bibliográfica na Internet. Revista Intermedic, Vol. 1, No. 2, 1997. 



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O Autor

O autor é professor livre-docente de Informática Médica da Faculdade de Ciências Médicas e coordenador do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas. É também Editor Científico das revistas Informática Médica e Intermedic
Email: renato@sabbatini.com
WWW: http://www.sabbatini.com/renato 
 
© 1998 Renato M.E. Sabbatini
Núcleo de Informática Biomédica 
Universidade Estadual de Campinas 
Campinas, Brasil
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