Vol. 1 No. 1 Jan/Fev 1998
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Informatizando A Saúde Ocupacional 

Jaime de O. Ilha e Renato M.E. Sabbatini

A importância da adoção de medidas que viabilizem o controle da saúde da população trabalhadora de um país já é largamente conhecida. Elas tem por objetivo a detecção e controle de doenças relacionadas com o trabalho, assim como o controle das condições de saúde em geral do trabalhador, especialmente no que diz respeito a patologias crônicas, a fim de que esta prejudiquem o mínimo possível sua produtividade. A equipe de saúde ocupacional realiza também atenção primária junto a este segmento da população, a fim de prevenir doenças ou detectá -las em suas fases iniciais, identificar processos epidêmicos ou endêmicos e atuar sobre eles, etc. 

Todas estas medidas trazem vantagens aos três segmentos envolvidos, ou seja, o trabalhador, a empresa e o estado. Por esse motivo, no Brasil, a saúde ocupacional é sujeita há muitos anos a diversas regulamentações governamentais, tais como a obrigatoriedade do exame periódico, normas de dano ocupacional, etc. A nova legislação sobre a matéria exige, inclusive, que todas empresas tenham setores de medicina ocupacional, ou que contratem serviços dessa natureza, e que mantenham registros sobre a saúde de seus trabalhadores. Além disso, atualmente muitas empresas, especialmente as de médio e grande porte, têm buscado unir a medicina ocupacional a um sistema de benefícios mais amplo, com assistência médica garantida através de convênios médico-hospitalares, contratos com medicina de grupo ou sistemas de gestão própria, aumentando em muito a comp lexidade gerencial do setor de saúde da empresa (geralmente ligado à área de recursos humanos). 

Em conseqüência de tudo isso, complicaram-se bastante os processos gerenciais do setor de saúde das empresas, e é indubitável que a Informática passou a ser indispensável para que se atinjam os objetivos ligados à saúde pública, saúde ocupacional e acompanhamento individual dos trabalhadores, principalmente em empresas de maior porte. Infelizmente, existe ainda em nosso país uma deficiência aguda de recursos e de conhecimento nessa área, fazendo com que uma grande maioria das empresas brasileiras não tenha sistemas especializados de informação em saúde ocupacional (apesar de serem, em muitos casos, informatizadas em todos os demais setores). 

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Os Objetivos da Informatização 

O objetivo final a ser atingido com a informatização do Serviço de Saúde Ocupacional de uma empresa é implementar um sistema que trate de forma integrada todas as suas rotinas, tanto administrativas quanto assistenciais, e, em especial, a montagem de um banco de dados contendo o registro clínico-ocupacional dos empregados. Um objetivo secundário é fazer com que os médicos e enfermeiras do Serviço interajam diretamente com o terminal de computador, de modo a serem os usuários finais da parte clínica do sustema. Outra características desejáveis é que o sistema permita a fácil realização de levantamentos estatísticos e epidemiológicos a partir dos registros clínicos manuais ou informatizados, bem como o gerenciamento de programas especiais de acompanhamento de saúde e de campanhas educativas para empregados enquadrados em grupos de risco, tais como hipertensos, diabéticos, estressados, obesos, etc 

Com o planejamento e a implementação bem feitas do sistema informatizado, passa a ser possível para a empresa realizar diversas mudanças nas rotinas de atendimento do Serviço, de maneira a fazer frente ao desejo de aliar o atendimento voltado a uma medicina primária ao cuidado dos problemas particulares de saúde de cada empregado. Entre as principais mudanças na filosofia de trabalho estão as seguintes: 

· Os exames periódicos não mais são realizados a um intervalo de tempo fixo. O protocolo para a decisão de convocação clínica não é mais simplesmente dirigido a categorias de trabalhadores, mas sim considera os dados individuais do trabalhador, constantes em seu registro clínico. Tem-se com isto uma distribuição mais adequada dos recursos de saúde e conseqüentemente uma racionalização dos custos envolvidos. · Os exames subsidiários necessários nestas revisões clínicas são determinados automaticamente, também levando em conta critérios mais detalhados para a determinação da freqüência de realização, tais como idade, sexo, cargo, exposição a agentes agressores, patologias pregressas, etc... Estes são solicitados antes do exame clínico, e em conseqüência diminui-se o número de comparecimentos do empregado ao órgão médico. 

· As medidas de atenção primária à saúde passam a ser realizadas através da convocação ativa dos empregados enquadrados nas diversas situações de risco, os quais são controlados de maneira integrada, através dos exames periódicos, realizados com maior freqüência e de reuniões específicas que têm tanto a finalidade de monitoração quanto educativa. 

· Inúmeras estatísticas passam a ser geradas a partir da automatização do registro clínico, as quais têm por finalidade avaliar o perfil de saúde da população em questão, servindo como base concreta para o estabelecimento de políticas de saúde a curto e médio prazo. 

· Abre-se a possibilidade de criação de bancos de dados especiais, como é o caso de voluntários à doação de sangue, os quais são convocados caso haja alguma situação de emergência. 

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Implementação Prática 

O primeiro passo para uma empresa que deseja informatizar seu Serviço de Saúde Ocupacional é realizar um Plano Diretor de Informática para o mesmo, utilizando pessoal próprio ou contratado (consultores) que tenham experiência nesse tipo de aplicação. Este plano deve levantar a situação atual de gerenciamento de informação administrativa e clínica do Serviço, bem como as suas necessidades de informatização, presentes e futuras, através de entrevistas com todos os membros da equipe. Finalmente, o plano deve definir as características do equipamento a ser adquirido ou expandido, selecionar qual o software que será utilizado ou a estratégia de seu desenvolvimento, e qual a política a ser seguida para o treinamento de pessoal e de reformulação do Serviço em função da entrada do computador. Um ponto importante a não ser esquecido é como será feita a integração do sistema de Saúde Ocupacional com os demais sistemas informatizados da empresa, quando eles existem, em especial o de recursos humanos (cadastro de funcionários), o que traz muitos ganhos de tempo e de recursos, ao aproveitar dados já digitados. Na maioria das vezes, é importantissimo também realizar um trabalho de esclarecimento e conscientização dos profissionais que trabalham no Serviço quanto às aplicações possíveis da Informática e quais serão seus benefícios e implicações funcionais, uma vez que geralmente eles não têm vivência ou experiência significativa no uso de computadores. 


Exemplo da tela de acesso ao cadastro de pacientes do programa PCMSO

O sistema deve ser idealmente constituído de diversos módulos que dão suporte à  área administrativa do setor médico (agendamento, convocações, solicitação de exames, comunicação de abono de faltas médicas, emissão de atestados, etc...), às atividades de natureza clínica, e à manipulação do registro clínico propriamente dito. No que tange aos módulos que tratam dos exames ocupacionais, com vistas a flexibilidade na definição de padrões de investigação e acompanhamento clínico dos empregados, as diversas regras de convocação para exames devem ser armazenadas em tabelas que possam ser modificadas sempre que desejado. a interação do médico com o registro clínico e de resto com o sistema deve se dar diretamente através de terminais alocados nos consultórios existentes. Neste sentido, é muito importante que o sistema tenha interfaces gráficas amigáveis, adequados à manipulação pelo médico, tais como o uso de Windows, ajuda ("help") sensível ao contexto. 

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Qual Software ? 

O aspecto mais crítico a ser resolvido atualmente é o do software que será utilizado. Existem três alternativas possíveis: adquirir sistemas comercialmente disponíveis (existem já vários softwares desse tipo no Brasil, sendo poucos de alta qualidade - veja o box), desenvolver seu próprio sistema com recursos internos (geralmente do setor de Informática da empresa), ou terceirizar o desenvolvimento de um sistema próprio. Cada abordagem tem suas próprias vantagens e desvantagens, e é impossível dizer qual é a melhor, sem que seja feita uma avaliação das características da empresa e do sistema a ser implementado. De uma maneira geral, empresas de pequeno e médio porte pouco informatizadas têm maiores vantagens ao adquirir sistemas prontos, garantindo evolução e manutenção do mesmo através de contratos com o fornecedor. Sistemas de grande porte, quase que invariavelmente, são desenvolvidos "in house", devido à grande complexidade da interação com os demais sistemas informatizados, bem como às peculiariedades e necessidades da empresa. 

Muitas vezes, dependendo do tipo da empresa, podem ser necessários programas adicionais, que não estejam disponiveis no software integrado, como, por exemplo, sistemas específicos para audiometria, sanidade ambiental, avaliação automatizada de riscos, etc. O Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP tem um acervo significativo de programas desse tipo, através do CEDIB (Centro de Documentação em Informática Biomédica: veja listagem às páginas 26-27), bem como através da Internet (http://www.nib.unicamp.br/). 

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Qual Hardware ? 

Com exceção das empresas de muito grande porte (por exemplo, com 10 mil empregados ou mais, múltiplos consultórios, descentralização geográfica, etc., a concepção do sistema de maneira modular e voltado a utilização de bancos de dados relacionais, sem dúvida permite a implementação em microcomputadores. Os pequenos serviços podem freqüentemente utilizar somente um microcomputador, enquanto que os maiores utilizam uma configuração de rede local que atenda ao número de usuários (equipe clinica e administrativa), dotada de um software integrado que permita operação em rede (multiusuário), utilizando a chamada "filosofia de sistemas distribuídos". Em outras palavras, em cada consultório e na  área administrativa do Serviço são utilizados microcomputadores compatíveis com IBM-PC ("clientes"), que se comunicam diretamente com um equipamento de maior porte (servidor) através de uma rede do tipo Ethernet. As funções do sistema estão portanto distribuídas entre os diversos nós da rede. Todos os arquivos que compõem o registro clínico estão localizados nesse servidor, assim como os programas principais do sistema. Arquivos de uso particular de um determinado setor do Serviço, bem como os respectivos programas podem residir nos outros computadores ligados à rede. Em empresas maiores, a integração com os demais sistemas de computadores em rede é essencial, e a escolha do equipamento vai ser feita primariamente pela equipe de suporte de Informática, para que seja compatível. 
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Conclusões 

Nossa experiência de implementação de sistemas computadorizados de gestão da saúde ocupacional demonstrou que, com o auxílio da Informática é possível estabelecer metas mais ambiciosas em termos do controle de saúde dos trabalhadoras, as quais contribuem para uma melhoria da qualidade dos serviços médicos prestados e da saúde da população envolvida. Acreditamos que a aplicação de controles mais racionais, e a difusão destes com possíveis repercussões mesmo ao nível da legislação, venha mais uma vez demonstrar que o investimento em medidas de saúde ocupacional é vantajoso a todos os envolvidos e que isto repercute favoravelmente no sentido de cada vez mais serem seguidas estas normas básicas por todas as empresas do país, revertendo-se a situação atual. Em um país em desenvolvimento, qualquer mecanismo adicional que propicie o controle de saúde da população é extremamente importante e, portanto, imaginando-se que este sistema poder  contribuir para a melhoria do controle de saúde ocupacional, estar-se-á  contribuindo significativamente para isto. Um outro ponto importante é propor melhorias à lei com bases em novas idéias ou idéias antes não aplicáveis devido a necessidade de recursos computacionais, que, em última análise, trouxessem maior economia ou melhor relação custo-benefício em relação a despesas com saúde, podendo até no futuro vir a ser aceito e empregado em pequenas empresas. 

A dificuldade de implementação depende de muitos fatores, mas geralmente, hoje, não é grande, principalmente se for escolhido um bom sistema de hardware e um software gerenciador adequado e que tenha todas as funções desejadas.

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Softwares para Saúde Ocupacional 

InfoClinic for Windows/Medicina Ocupacional: Anflatech. Av. Brigadeiro Faria Lima, 1390, 4o. andar, CEP: 014552-001 São Paulo - SP Tel./Fax: (011) 867-8055 WWW: http://www.dialdata.com.br/anflatech/infomo.htm 

Nexo Saúde Ocupacional: NexoCS Informática. Av. Franklin Roosevelt, 71, Conj. 1004, CEP 20021-120, Rio de Janeiro, RJ. Tel. (021) 532-5960. Email: nexocs@nexocs.com.br. WWW: http://www.nexocs.com.br/saude.htm 

MedSARR/Trabalho para MS-DOS: CCNI Consultoria e Informática, Rua Cubatão 720, São Paulo, SP, Tel. (011) 884-3211. Email: ccni@webpraxis.com 

OPT-SIMO e OPT-SIMO Plus - Sistemas Integrados de Medicina Ocupacional. Options Informática, Av. José de Souza Campos 1815 Sl. 1202, CEP 13025-320, Campinas - SP, Fone / Fax: (019) 252-9502 ou 251-1226. E-mail: options@mpc.com.br 

PCMSO/Windows: WinDOOR Safety. Al. Rio Negro, 911 Conj 801, Alphaville - Barueri - SP. Tel: (011) 7296-3222/7296-3223. Email: safety@windoor.com.br. WWW: http://www.windoor.com.br/safety/pcmso.html 

Personal Med Empresarial: Gens Informática, Rua João Abott 441/201-Petrópolis, Porto Alegre RS, CEP 90460-150, Tel. (051) 333.1057 / 332.5546. Email: gens@nutecnet.com.br. WWW: http://www.gens.com.br/pmwe.htm 

WinClin Edição Empresarial: WinClin Software & Consultoria, Caixa Postal 6048 - CEP 12.231-970, São José dos Campos - SP, Tel/Fax: (012) 341-4904 / 321-7733/341-4810. Email: cwinclin@polovale.softex.br. WWW: http://polovale.softex.br/winclin/product.htm 

WORKDB: DB Consult Informática. Rua Tenente Silveira, 293 - Sala 402, CEP 88010-301 - Fone/Fax (048) 224-7085, Florianópolis, Santa Catarina. Email: dbconsult@netco.com.br. WWW: http://www.netco.com.br/dbconsult/workdb.html


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Os Autores

Jaime de Oliveira Ilha é médico especializado em Informática Médica e pesquisador do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP. Foi gerente de Informática Médica da UNIMED Sistemas. Atualmente é consultor independente. Renato M.E. Sabbatini é professor livre-docente da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, coordenador do NIB e Editor Científico das revistas Informática Médica e Intermedic.
 
© 1998 Renato M.E. Sabbatini
Núcleo de Informática Biomédica 
Universidade Estadual de Campinas 
Campinas, Brasil
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