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Internet e Educação MédicaEste número de Informática Médica é dedicado ao fenômeno tecnológico do século, a rede Internet, e o impacto cada vez maior que está tendo na Medicina.Segundo o pesquisador do MIT, Prof. Marvin Misky (um dos pais da Inteligência Artificial), a Internet será a maior revolução na educação de todos os tempos. O potencial educacional da Internet se manifesta em múltiplas áreas e processos. O primeiro impacto ocorrerá na disponibilização de informação para o aprendiz, através das publicações eletrônicas e dos "sites" especializados. Ainda segundo outro respeitado professor do mesmo instituto, Nicholas Negroponte, os átomos do papel e da tinta estão sendo substituídos por bits, que não têm massa e são transmitidos de forma praticamente instantânea para qualquer ponto do planeta. Quando um bem constituido de átomos (como um livro didático ou uma revista) é distribuído para um usuário, o seu produtor transfere matéria e a perde, ao mesmo tempo. Com os bits, ele pode transferir informação em estado puro ou abstrato, sem nunca perdê-la ! O segundo impacto ocorrerá devido à característica interativa da Internet. Ela permite a transmissão de informação entre dois pontos quaisquer ligados à rede, em ambos os sentidos, com grande velocidade. Assim, podemos usar os recursos da Internet para simular praticamente qualquer situação que ocorra num contexto educacional, como aulas magistrais e palestras, sessões de tira-dúvidas, discussões de casos clínicos, exames orais ou escritos, trabalho em grupo, conversas telefônicas, transmissão de vídeo ou de áudio em tempo real, ou sob demanda, etc. A possibilidade de executar programas autônomos, tanto do lado do computador onde a informação é disponibilizada quanto do lado do usuário, principalmente através de novas tecnologias distribuídas, como o Java, expande enormemente as possibilidades de interação. Para citar apenas um exemplo, já existem "laboratórios virtuais", nos quais um aluno pode realizar simulações de experimentos biológicos em animais (como um choque hemorrágico ou o registro de potenciais elétricos cardíacos) e de manejo de pacientes, inteiramente através da rede.A rede dá um novo sentido ao que se convencionou chamar de educação à distância, e que no Brasil ficou com má fama devido aos cursinhos por correspondência de má qualidade. Entretanto, a utilidade de cursos à distância bem-feitos em Medicina é fantástica. Imagine, por exemplo, poder fazer um curso de reciclagem de conhecimentos sobre neuroradiologia ou outro tema qualquer, sem precisar sair de casa, e com a mesma eficácia que em um curso presencial. Evidentemente, nem todas as áreas da educação médica se prestam para isso (a experiência clínica no contato direto com o paciente será sempre insubstituível, assim como o trabalho em laboratório), mas sobram milhares de possibilidades para elevar o nível de conhecimento e atualização dos médicos brasileiros, usando-se plenamente o potencial da Internet.Outra conseqüência muito interessante é que se dissolve a distinção entre educação formal e informal, uma vez que é tão fácil colocar cursos na Internet, e tão democrático, que a universidade tradicional encontra-se ameaçada em sua função tradicional, abrindo a Internet novas oportunidades para todos que querem e podem ensinar. Não tenho dúvida que nos
encontramos às portas de uma nova era na educação
médica. Quem não acordar para isso está fadado a ser
soterrado pela avalanche colocada em movimento pelas novas tecnologias
e perder seu lugar assegurado pelas velhas estruturas do ensino. |
Renato
M.E. Sabbatini
Editor Científico |
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