Mensagem do Editor

O Preço da Informação

Intermedic: Revista de Internet e Medicina, 1(2), Set/Out 1997

Uma das várias palestras que assisti sobre a Internet versava sobre um tema futurista: o dia em que o planeta será totalmente unido por uma única rede de computadores... Um dos palestrantes, Michael McDonald, um brilhante pesquisador e médico da Fundação Everett Koop, falou sobre como poderia evoluir o custo da informação neste cenário. A frase que me mais me fascinou foi a de que o custo da informação tenderá a zero !

Isso parece uma coisa utópica e irreal, pois afinal todo mundo sabe que custa muito caro coletar e disponibilizar qualquer tipo de informação. O modelo tradicional das revistas e dos bancos de dados é repassar o custo para o usuário, com a devida margem de lucro. O negócio da venda de informação é hoje um dos setores mais importantes da economia.

No entanto, a concorrência entre projetos que oferecem bancos de dados imensos a um custo nulo para os usuários, principalmente na Internet, está aumentando cada vez mais, e torna difícil a vida das empresas que tentam se sustentar através dessa atividade. Tomo um exemplo: a Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA recentemente disponibilizou gratuitamente através da Internet o MEDLINE, seu banco da dados bibliográficos com mais de 9 milhões de referências, com resumo incluído (vejam meu artigo sobre pesquisa bibliográfica na Internet, neste número). Os custos, de centenas de milhões de dólares nos útlimos 20 anos, foram inteiramente cobertos pelo governo norte-americano. Dezenas de empresas que vendem CD-ROMs e acesso à MEDLINE ficaram inviáveis economicamente do dia para a noite.

Outro exemplo é a própria revista Intermedic. Ela está sendo oferecida gratuitamente em forma impressa e através da Internet, embora tenha um custo alto de elaboração. Como ela, já existem centenas de revistas e jornais eletrônicos que nada cobram de seus assinantes. A publicação de Intermedic se tornou possível através do patrocínio financeiro de uma indústria farmacêutica, a Searle do Brasil, e do trabalho de editores e autores da UNICAMP e outras universidades, assim como da Lemos Editorial, a nossa parceira nesta versão impressa.

Tudo isso leva a um fenômeno novo e intrigante, já que se cria de imediato um diferencial fatal para quem cobra pela informação. Quem não cobra, naturalmente, acaba sendo acessado pela Internet muito mais do quem cobra, a não ser que tenha um produto muito desejado. As editoras de revistas médicas estão apavoradas, e tentando achar um modelo econômico viável para a Internet. Para elas, o futuro será o de informação barata, mas não exatamente zero. Atualmente, no entanto, uma assinatura eletrônica de um bom periódico científico internacional, como o New England Journal of Medicine, custa quase que a mesma coisa que a assinatura em papel, o que é um flagrante absurdo, pois os maiores custos de uma revista são a impressão e a distribuição; custos estes nulos para a Internet.

Sem dúvida, nos próximos anos, a Internet promete revolucionar ainda mais o mundo da informação médica.