Impedância Cardiográfica: Um Novo Método Não Invasivo

Allan K.D. Barros Filho


Revista Informédica, 2(7): 19-20, 1994.


Um dos grandes desafios da tecnologia diagnóstica em cardiologia é a obtenção de dados não invasivos mais detalhados sobre as funções cardíacas, que representem alternativas simples e baratas aos métodos já existentes. A impedância cardiográfica é uma das opções interessantes neste aspecto, embora seja relativamente pouco utilizada na prática clínica. Ela mede variações cardíacas a cada batida, baseada nas propriedades elétricas da região torácica. Impedância é um valor elétrico alterado pelas variações concomitantes no volume torácico, causadas pelo movimento do sangue em seu interior, durante o ciclo cardíaco.

A impedância cardiográfica é medida usando-se quatro eletrodos de superfície, sendo dois colocados em volta do pescoço, e mais dois na região peitoral. Os eletrodos exteriores são usados para injetar um sinal elétrico alternado, de baixa intensidade, no tórax e pescoço, a partir do qual se mede a impedância, através dos eletrodos interiores. Não há risco para o paciente, e o procedimento de obtenção de dados é rápido. simples e atraumático, exatamente como em um ECG. A impedância cardiográfica pode fornecer diversos dados, mas o volume por batida cardíaca é o mais comumente registrado na prática clínica. Este valor, em função do tempo, é calculado pelo aparelho através do que se chama, em termos matemáticos, de derivada do sinal de impedância (em outras palavras, a velocidade de variação da mesma, em função do tempo). A impedância cardiográfica é o resultado de varios eventos fisiológicos, principalmente mudanças no vo-lume sanguíneo nos tecidos durante o ciclo cardíaco, e mudanças na orientação dos eritrócitos, causada pela variação de velocidade do sangue na aorta. Os eventos correlacionados à derivada da onda de impedância podem ser identificados por analogia com o ECG e PCG (vide Figura). Há também uma relação linear entre o pico desta onda e o pico do fluxo sangüíneo na aorta ascendente. O registro impedanciográfico exibe padrões característicos facilmente identificáveis, denominados de ondas A, C e O; e pontos B, X e Y:

Em se tratando das aplicações clínicas, a impedância cardiográfica pode ser uma fonte de significativas informações para o médico. Por exemplo, uma onda "O" elevada é associada a um enfraquecimento na função ventricular, resultando em uma congestão e dilatação atrial. Mudanças na forma característica dessa onda são associadas a disfunções da válvula mitral.

Atualmente, a maioria das informações sobre a função cardíaca é obtida a partir da análise do ECG, da freqüência cardíaca, e dos sintomas do paciente. Um melhor conhecimento do estado cardíaco seria obtido se fossem acrescentados à rotina de testes as medidas do volume por batida e do débito cardiaco, permitindo então ao cardiologista conhecer a capacidade de bombeamento do coração. Neste aspecto, varios pesquisadores têm demonstrado que a impedância cardiográfica fornece informações sobre a função cardíaca em determinadas doenças do coração, que nenhum outro método consegue fazer,. Por exemplo, Hetherington estudou pacientes com pós-infarto do miocárdio, caracterizando os grupos de pacientes de acordo com o volume por batida do coração durante o exercício, o que permitiu a identificação dos individuos com função ventricular reduzida e resistência vascular aumentada, que não eram aparentes usando-se outros dados clínicos. Em muitas circunstâncias, o médico está mais interessado em como a intervenção terapeutica afeta o débito cardíaco, do que em seu valor preciso. Constatou-se que a precisão da medida do débito cardiaco em repouso pela impedância cardiográfica é de aproximadamente 15% , o que se aproxima da precisão das outras técnicas não invasivas (perfusão com tálio, ecocardiografia, etc.). Deste modo, há quase total unanimidade entre as pesquisas realizadas, de que as mudanças relativas do débito cardiaco podem ser medidas com precisão aceitável pela impedância cardiográfica. Pela sua diversidade, e pelo fato de ser única entre os métodos não-invasivos, a impedância cardiográfica já foi aplicada, por exemplo, para avaliar varias funções cardio-pulmonares em gravidez, doenças da válvula mitral, insuficiência cardíaca, stress, lesões por queimaduras e cirurgia dental.

Apesar de se apresentar como um método opcional de várias aplicações, que continuam sendo desenvolvidas, a impedância cardiográfica ainda tem limitações, como a exatidão na medida absoluta do volume por batida cardíaca e em medições durante exercicios. A melhoria dessas deficiências tem sido o objeto de pesquisas recentes, principalmente na área de processamento digital de sinais.


Para Saber Mais

  1. Northridge DB; Findlay IN; Wilson J; Henderson E; Dargie HJ. - Non-invasive determination of cardiac output by Doppler echocardiography and electrical bioimpedance Brit. Heart J., 63(2):93-7, 1990.
  2. Ovsyshcher I; Furman S. - Impedance cardiography for cardiac output estimation in pacemaker patients: review of the literature. PACE Pacing Clin Electrophysiol 16(7 Pt 1):1412-22, 1993.

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