A qualidade do software médico


Renato M.E. Sabbatini

Editor Científicorenato@sabbatini.com
Revista Informédica, 2(10): 4, 1994.


Com o interesse cada vez maior dos médicos em informatizarem seus consultórios, hospitais, laboratórios, etc., está assumindo importância um problema bastante sério, que até hoje não foi resolvido a contento em nosso país. Refiro-me à questão de como os usuários podem ter certeza de que o software que estão comprando tem uma qualidade aceitável. Além de ser necessária a qualidade do ponto de vista da tecnologia de Informática (se o programa funciona bem, não tem erros, tem uma boa interface com o usuário, tem bom desempenho na situação real em que será usado, é de fácil instalação e uso, etc.), existe o problema da adequação e da correção do software do ponto de vista médico, ou seja, se ele usa o conhecimento mais correto e atualizado sobre o tema, se não possui erros conceituais ou de aplicação de fórmulas de cálculo, etc. Infelizmente, o problema é agravado pelo fato de que a maioria dos médicos que os adquirem não tem conhecimento técnico suficiente para testar e selecionar eficientemente, isso admitindo que o programa está disponível para teste ou seus autores deixam claro que metodologia foi aplicada (o que é extremamente raro).

Evidentemente, um programa de computador com deficiências médicas pode ser muito perigoso, dependendo do processo médico onde está inserido. Por exemplo, um programa que faz cálculos hemodinâmicos complexos, que não podem ser checados manualmente pelo médico toda vez que são realizados, pode ter conseqüências drásticas para a saúde do paciente. Pior ainda se este programa fizer parte de um sistema de controle automático de pacientes em UTIs, por exemplo, a partir do qual o computador poderá acionar de forma autônoma bombas de perfusão, cardioversores, etc. Entretanto, mesmo para programas simples de automação de consultórios, as conseqüências podem ser funestas se a qualidade for baixa, desde a simples perda do investimento feito pelo médico, até a perda ou registro incorreto de informações diagnósticas e terapêuticas. Infelizmente, o mercado brasileiro está abarrotado de programas de automação de consultórios de baixa qualidade, feitos por analistas que nunca entraram em um consultório médico. São verdadeiros "cavalos de Tróia", pois custam muito barato. Acredito que 80 % ou mais desses programas adquiridos tiveram seu uso abandonado depois de pouco tempo, ou nunca foram usados, gerando enorme disperdício e verdadeira "vacinação" dos médicos vítimas dessa enganação, contra a Informática. Nos EUA, as sociedades médicas científicas se preocupam em testar esses softwares médicos específicos, e atribuir um "selo de qualidade", que recomenda sua aquisição pelos associados. Precisaríamos ter um serviço desse tipo no Brasil, também.


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