Toda vez que se tenta discutir o papel e a importância da Informática no setor saúde, em nosso país, invariavelmente algum participante da platéia levanta o problema do enorme contraste entre a pobreza de nossa Medicina, e a aparente sofisticação e luxo representados pelos computadores. Uma pergunta muito freqüente é a seguinte: como é possível justificar os custos de implantação de sistemas informatizados em postos de saúde e hospitais públicos, quando faltam até mesmo materiais essenciais, como medicamentos, materiais descartáveis e produtos de limpeza ? A convicção de que o computador é um luxo, supérfluo e indesejável, até que consigamos melhorar o nível da Medicina básica, é muito mais comum do que se pensa. Aliás, um dos Secretários de Saúde do estado mais rico da Federação chegou a declarar que preferia gastar dinheiro para salvar crianças com desinteria, do que comprar um microcomputador para um posto de saúde.
A peremptória afirmação do Sr. Secretário mostra como é generalizada a ignorância acerca da utilidade da Informática na saúde, até mesmo entre a elite dirigente do setor (o Sr. Secretário é um conceituado professor universitário na sua especialidade). Uma das maiores fontes de desperdício e ineficiência é justamente o lastimável estado dos sistemas de informação em saúde no Brasil. Por exemplo, centenas de milhares de medicamentos são jogados no lixo, todo ano, por não haver um sistema informatizado de controle de datas de validade e de reposição racional de estoques. Muitos recursos financeiros são corroídos por uma burocracia tecnicamente obsoleta, despreparada e carente de recursos de acesso rápido à informação gerencial. Muitos pacientes, enfim, são prejudicados por um atendimento moroso, incompleto e perigoso, por culpa de um sistema falho de agendamento e de registro clínico.
Tudo isso pode ser enormemente melhorado com o auxílio da Informática. Se somarmos todas os gastos e prejuízos gerados pela falta de uma informatização eficiente, constataríamos facilmente que não só eles cobririam todos os gastos com computadores, programas e técnicos especializados, mas que sobraria ainda muito dinheiro para melhorar a qualidade da assistência médica ! A experiência passada de vários países demonstra isso claramente.
Portanto, penso que o argumento é exatamente o oposto do que foi afirmado acima. Somente um país pobre como o Brasil pode se dar ao luxo de não ter computadores a serviço da saúde. Entre outras coisas, somos pobres por que somos maus gerentes.