Fome de Informação


Renato M.E. Sabbatini

Editor Científicorenato@sabbatini.com
Revista Informédica, 1(5): 4, 1994.


A revolução da Informática está batendo na porta dos médicos, de seus consultórios, clínicas e hospitais. Bate cada vez mais insistentemente, e os próprios médicos são os primeiros a admitir que esta é uma revolução que não se pode mandar embora, que um dia ela vai acabar entrando em suas vidas. Apesar dessa constatação quase que fatalista, poucos abrem a porta e deixam-na entrar...

Porque será ? O que acontece com a área médica, que está sendo a última a se render à eficiência da Informática em nossa sociedade ? É só olhar para os bancos, repartições públicas, universidades, empresas de todos os portes (até o botequim da esquina está comprando um caixa computadorizado). Estamos demorando demais, e o mais impressionante é que isto acontece em uma profissão que literalmente vive de informação! O casamento entre a Medicina e a Informática não só é inevitável: ele é enormemente necessário. Uma análise preliminar do questionário que passamos a distribuir para todos os nossos leitores são inequívocos: mais de 90 % dos que responderam acham que será impossível praticar Medicina sem o auxílio da Informática, no futuro.

No futuro ? Agora ! Basta ver como sofre a qualidade da nossa Medicina com os SAMEs hospitalares e suas pilhas e pilhas pavorosas de prontuários preenchidos de qualquer jeito, perdidos, incompletos, irrecuperáveis. Quantos exames tem que ser repetidos, quantos pacientes são prejudicados pela ilegibilidade dos registros, que montanhas de dados médicos preciosos estão sepultadas nesse verdadeiro cemitério de informações que é o famoso SAME ?

Entretanto, os médicos hesitam. A pesquisa da Informédica também está revelando outro dado interessante: muitos profissionais já compraram o seu computador, mas a maioria utiliza em casa, como uma simples máquina de escrever inteligente. Não deixa de ser uma aplicação interessante, mas poucos utilizam o computador realmente para aplicações clínicas, tais como no cadastramento dos pacientes, na anamnese, no apoio ao diagnóstico, etc.

Ao meu ver, o que falta é mais informação sobre os usos da Informática na Medicina, e como fazê-lo. Os médicos têm fome de informação nessa área: foi o que deu para perceber pela (ainda) pequena amostra de que dispomos. Nossas entidades de classe, faculdades, organizações médico-hospitalares precisam acordar para esse problema e começar saciar essa fome, urgentemente.


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