Um Teste Computadorizado para Auto-Avaliação Rápida da Depressão Clínica
Renato M.E. Sabbatini
Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas
WWW: http://home.nib.unicamp.br/~sabbatin
Email:renato@sabbatini.com.
Revista Informédica, 1(1): 5-11, 1993.
É comum no ambiente do consultório e da clínica, em muitas especialidades, ter-se a necessidade de identificar objetivamente e quantificar o grau de depressão em que se encontra um paciente com problemas mentais e/ou emocionais. Diversas escalas objetivas de avaliação foram desenvolvidas com essa finalidade, algumas delas simples, de fácil aplicação, e outras complexas, que exigem um profissional especializado, e são muito elaboradas e demoradas para se aplicar. Como exemplo dessa última categoria de testes, existe o LICET-100, para o qual já foi desenvolvido um software de computador[1], e que está disponivel através do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP. O LICET-100 tem um conjunto de 100 questões e classifica simultaneamente o paciente de acordo com as sete classificações clínicas consagradas na literatura. Sua aplicação depende de um psiquiatra presente, que deve orientar o questionamento do paciente, com base na seqüência apresentada pelo software.
De modo a possibilitar um teste mais simples de depressão clínica em pacientes adultos com forte indicativos diagnósticos, desenvolvemos um programa para microcomputadores, tomando como base uma das escalas de complexidade intermediária, desenvolvida pelo Dr. Bernard J. Carroll, da Duke University, EUA[2]. O teste tem 52 questões, às quais o paciente deve responder sim ou não. A terminologia utilizada é suficientemente simples para permitir que o próprio paciente responda ao teste à frente do computador. A identificação do paciente e do examinador, bem como as respostas dadas, são armazenados em um arquivo em disco, de tal forma que se pode avaliar quantitativamente (calcular os escores) e imprimir os resultados, posteriormente. Esse arquivo pode ser usado também para realizar análises estatísticas mais sofisticadas, usando outros softwares.
A escala de Carroll avalia o grau de depressão da seguinte maneira:
- São apresentados inicialmente os escores absolutos, máximos e relativos para cada uma das seguintes categorias: depressão, culpa, suicídio, insônia inicial, insônia intermediária, insônia retardada, trabalho e interesses, retardamento, agitação, ansiedade psicológica, ansiedade somática, sintomas gastrointestinais, somático geral, libido sexual, hipocondria e alteração de autoconsciência.
- É calculado também um escore geral, que varia teoricamente entre 0 e 52. É atribuído um ponto positivo a cada questão respondida de acordo com o esperado (direção significativa). Na prática, entretanto, o programa rejeitará como suspeito qualquer resultado menor que 4 pontos e maior de 49. Além disso, se o paciente der mais de 47 respostas positivas ou mais de 47 respostas negativas, o resultado será rejeitado como suspeito de fraude ou tendências inválidas. Se o resultado ficar entre 5 e 48, o programa avalia o grau de depressão. Segundo Carroll, um escore maior que 18 indica a presença de uma depressão clínica significativa. O programa avalia automaticamente e imprime a interpretação mais provável do escore.
- Em uma adição ao teste original de Carroll, nosso programa calcula também o coeficiente de associação categória (ou contingência) de Yule[3]. Esse índice varia entre -1 (ausência total de depressão) até +1 (presença total de depressão), indicando de forma probabilística, de acordo com a distribuição do qui-quadrado, se as respostas foram dadas pelo paciente de acordo com o esperado, ou não. Esse índice pode ser útil para indicar a significância estatística da depressão registrada, e é baseada na seguinte fórmula:
q = (NN . PP - NP . PN)/(NN . PP + NP . PN)
Onde:
- PP = número de respostas positivas a questões que tem significância (resposta esperada em caso de depressão) positiva
- NN = número de respostas negativas a questões que tem significância negativa
- PN = número de respostas positivas a questões que tem significância negativa
- NP = número de respostas negativas a questões que tem significância positiva
Nota-se facilmente que este coeficiente corresponde ao calculado para uma tabela de contingência 2 x 2 onde as linhas representam as respostas esperadas em caso de depressão, e nas colunas as respostas obtidas. Em caso de concordância total com o esperado para uma depressão, teremos PP=40 e NN=12, de acordo com as questões preprogramadas no questionário de Carroll, e q =1. No caso de discordância total, teremos PP=0 e NN=0, PN=40 e NP=12, e q = -1. A significância estatística de q é derivada do qui-quadrado calculado para essa tabela, de acordo com a fórmula convencional sem correção de Yates. Se o valor obtido for maior do que 3.62, o coeficiente de Yule é significativo em nível de 0.05.
- Finalmente, o programa lista todas as respostas significativas (coincidentes com diagnóstico de depressão), agrupadas por categoria. Essa listagem pode ser útil para o examinador avaliar quais são os pontos de sua saúde mental que se correlacionam com a depressão, de modo a indicar qualitativamente o tipo da mesma (dominância de ansiedade, de retardamento, psicossomática, etc.).
Funcionamento do programa
O programa se apresenta inicialmente com um menu contendo as seguintes opções: Administrar, Imprimir e Fim. A primeira opção permite aplicar o teste ao paciente. Inicialmente deve-se fornecer um número de identificação do paciente, assim como seu nome e nome do examinador. A seguir, o programa apresentará sucessivamente as 52 questões, às quais o paciente deverá pressionar as teclas S (sim) e N (não), conforme a afirmativa apresentada na tela se aplique para ele ou ela. Não é possível retornar ou corrigir uma questão (propositadamente), assim o examinador deve avisar o paciente para pensar bem antes de responder. Não há limite de tempo. Ao final do teste, o programa grava no disco os dados do paciente e das respostas em um arquivo sequencial em ASCII, denominado CARROLL.DAT, que deve ficar no mesmo diretório em que ficar o programa executável. O formato usado para cada registro é o seguinte:
- Linha 1: número de identificação do paciente
- Linha 2: nome do paciente
- Linha 3: nome do responsável pela aplicação e laudo
- Linha 4: data de aplicação do teste (tomada automaticamente pelo sistema)
- Linhas 5 até 58: respostas S ou N às 52 questões.
Pacientes sucessivos são gravados um após o outro no mesmo arquivo. Não é possível apagar um paciente do arquivo, a menos que o usuário faça isso manualmente, carregando CARROLL.DAT em um processador de textos e eliminando as linhas correspondentes, de acordo com o formato acima, a um determinado paciente. Deve-se tomar cuidado de gravar novamente o arquivo em modo ASCII (texto, não-documento, ou TXT), com o mesmo nome.
A segunda opção permite ler os dados de um paciente registrados no arquivo CARROLL.DAT, avaliar e imprimir os resultados, conforme descrito acima. O programa pergunta se o usuário quer a saída em vídeo ou em impressora, e, no segundo caso, quantas cópias deseja do mesmo relatório. Os relatórios podem ser impressos quando se queira. O programa funciona com qualquer tipo de impressora.
A versão aqui apresentada foi por nós programada em Borland Turbo-BASIC 1.0 (TB), embora provavelmente seja compatível também com o Microsoft Quick-BASIC (QB), e pode ser executada em qualquer modelo de microcomputador compatível com PC-XT, AT, etc.
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