A GHNetA GHNet foi criada em 1994 por representantes das universidades, da Organização Mundial da Saúde, Organização Panamericana da Saúde, Banco Mundial, Agencia Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) dos EUA, e companhias IBM e AT&T. O conceito fundamental, explicado com mais detalhes em outras publicações [9-13], é de que a saúde, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, pode ser melhorada com a implementação de uma rede eletrônica de saúde.A GHNet tem sete componentes principais: 1. Conectividade O objetivo é conectar todas as agências de saúde pública no mundo, desde departamentos de saúde locais até ministérios de saúde em todo o mundo. Atualmente está sendo desenvolvido um trabalho junto ao Banco Mundial, à Agência para o Desenvolvimento internacional dos EUA (USAID), e a NASA para levar a conectividade à África, onde atualmente apenas seis países têm acesso direto a internet. Existe a expectativa de que toda a África esteja conectada nos próximos 20 anos. 2. Telemonitorização de doenças É virtualmente impossível identificar problemas de saúde se não for feita monitorização da incidência de doenças. Os sistemas atualmente existentes de vigilância e monitorização de doenças infecciosas nos EUA e em outros países são imprecisos. Quanto às doenças não-transmissíveis, como diabetes, cardiopatias e acidentes vasculares cerebrais, os poucos sistemas de monitorização existentes são inadequados, abrangendo menos de 5% da população. Recentemente se propôs a utilização de metodologia de "captura-recaptura", para estudos epidemiológicos [14, 15], melhorando assim a precisão das estimativas. O uso dessa metodologia, com o apoio das telecomunicações, permitirá a monitorização de doenças de modo mais rápido e preciso. Com mais informações sobre a incidência das doenças, será possível direcionar melhor os poucos recursos disponíveis para a saúde, destinando esses recursos para os locais onde eles realmente são mais necessários. 3. Universidade da GHNet O treinamento de profissionais de saúde pública é caro. Na Universidade de Pittsburgh, o custo de de um mestrado em saúde pública é de aproximadamente US$ 50.000,00, além disso a maior parte dos estudantes fica afastada do seu trabalho durante o período de treinamento (dois anos, em média).Está sendo desenvolvido um programa internacional de "educação à distância" no qual instrutores em Pittsburgh, Moscou e Santiago podem dar treinamento a estudantes em Pequim, Vienna, Nairóbi e Melbourne, por exemplo. A maior parte do treinamento é feita por e-mail, que opera em sistemas com baixa capacidade de transmissão de dados, que em geral operam usando transmissão por linhas telefônicas. Aqueles que dispõe de sistemas com alta capacidade de transmissão de dados, em geral com o uso de fibras opticas, podem usar tecnologias mais sofisticadas, inclusive a WWW. 4. Conexão de Organizações Não Governamentais (ONGs) Organizações de saúde não ligadas aos governos, como a Cruz Vermelha e a Igreja Católica, são responsáveis por grande parte das informações de saúde em todo o mundo. Essas organizações porém praticamente não se comunicam entre si, mesmo em catástrofes e situações de emergência. A interconexão dessas organizações potencialmente melhoraria sua eficiência e reduziria a duplicação de esforços. 5. "Cyberdocs" A epidemiologia e a saúde pública se desenvolveram independentes das ciências da comunicação. Provavelmente existem poucas (ou nenhuma) pessoas com treinamento em ambas as disciplinas. Está sendo desenvolvido um programa de treinamento conjunto em epidemiologia e telecomunicações; os graduados nesse programa, que serão conhecidos como "cyberdocs", serão particularmente necessários em situações de desastre, onde muitas mortes podem ocorrer se não houver um sistema de comunicações eficiente. Esses indivíduos não serão engenheiros, mas agentes de saúde pública, capacitados para ir a situações de emergência e identificar as pessoas e formas de assistência necessários para atender à situação em questão. 6. Servidores científicos de pesquisa O grupo da GHNet tem discutido a "morte" das publicações biomédicas em poucos anos [12]. Essas publicações são caras e pouco prática, além do que, apenas cerca de 15% do mundo tem acesso a elas. Algumas bibliotecas de universidades na África, por exemplo, não recebem uma dessas publicações há dez anos.Está sendo desenvolvido um sistema eletrônico para comunicações médicas, mas simplesmente colocar essas publicações na internet aumentará o acesso a elas, mas não esgota os recursos da rede. O British Medical Journal, o terceiro maior jornal médico do mundo, está colocando alguns de seus artigos, completos na Internet, como uma alternativa. Provavelmente dependerá muito da atitude dos próprios autores, que podem decidir se querem realmente "publicar" seus trabalhos nessa forma alternativa, ou continuar dependendo dos jornais. Na área de física, desde 1991, muitos trabalhos são divulgados pela Internet [16]. Na área médica parece haver muita resistência, principalmente por parte de pessoas ligadas aos jornais, como editores e companhias gráficas. 7. Home page A página da GHNet na WWW está no seguinte endereço: http://www.pitt.edu/HOME/GHNet/GHNet-p.html. Essa página pretende ser uma espécie de "shopping center" de informações sobre saúde, indicando onde as informações sobre diversos aspectos da saúde mundial podem ser encontrados (Fig.1). Fazem parte da GHNet páginas específicas sobre patologia clínica, saúde de minorias, epidemiologia molecular e saúde materno-infantil, além de outros tópicos em desenvolvimento. algumas partes da página principal já estão disponíveis em Japonês, Português e Espanhol. Em breve teremos traduções de resumos de comunicações escritas em outras línguas, que não o Inglês, na página principal, possibilitando a divulgação e a troca de informações entre pesquisadores da área de saúde pública em todo o mundo.A página da GHNet compreende uma extensa gama de recursos, e recebeu diversos prêmios. A revista "PC Magazine" a classificou como uma das melhores 100 páginas da World Wide Web. Em novembro de 1995 apenas cerca de 100 pessoas "visitaram" a página por dia, desde a publicação da premiação da PC Magazine as visitas aumentaram para mais de 800 por dia. |
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A GHnet em portuguêsA idéia de fazer uma versão da GHNet em português não se limita a meramente traduzir o conteúdo da página principal e das diversas páginas interligadas para o nosso idioma. Além de facilitar o acesso de grande número de profissionais de saúde, principalmente os ligados à saúde pública, aos recursos da Internet, a GHNet em português busca sua identidade.Os recursos oferecidos na GHNet original são, em sua grande maioria, dos EUA, e muitas vezes bastante específicos desse país. Fontes de referência e recursos locais são muitas vezes mais importantes para os pesquisadores, além de serem mais atualizados: claro que alguma instituição norte-americana vai dispor de alguns dados populacionais brasileiros (ou latino-americanos, ou africanos), mas será que eles serão tão atualizados e precisos? A saúde no Brasil suporta e necessita da criação de um recurso como a GHNet, com acesso a dados internacionais, mas com um forte componente nacional, que necessita de muita cooperação dos pesquisadores e instituições nacionais, governamentais e não-governamentais, para ser criado e mantido.Existem muitas perspectivas para a versão brasileira, ou em língua portuguesa da GHNet, como a divulgação das atividades de saúde e de pesquisa, por intermédio da página principal, e possivelmente das publicações "on line". A integração com os serviços de sáude de países de língua portuguesa seria muito facilitada pelo acesso e comunicações muito facilitados pela versão em português da GHNet.Para este projeto, que está começando a ser desenvolvido, todas as sugestões e colaborações são muito bem-vindas! |
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Para Saber Mais1. Cerf VG. Internetworking and the Internet. Internet Society 1993. 2. Network Wizards. Internet Domain Survey, January 1995. Internet: http://www.nw.com/ 3. Pfaffenberger B. World Wide Web Bible. MIS:Press New York 1995. 4. LaQuey T and Ryer JC. Internet Companion. Addison-wesley Publishing Company 1993. 5. Crump WJ, Pfeil T. A telemedicine primer: an introduction to the technology and an overview of the literature. Arch Fam med 1995; 4:796-803. 6. Mun SK, Elsayed AM, Tohme WG, Wu YC. Teleradiology/telepathology requirements and implementation. J Med Syst 1995; 19:153-64. 7. Satava RM, Simon IB. Teleoperation, telerobotics, and telepresence in surgery. Endosc Surg Allied Technol 1993; 1:151-3. 8. Ref Erradicação da polio no Brasil Ministério da Saúde, 1995 9. LaPorte RE. Global public health and the information superhighway. BMJ 1994; 308:1651-2. 10. LaPorte RE, Akazawa S, Boostrom E, et al. Global public health and the information superhighway: global health network university proposed. BMJ 1994; 309: 737. 11. LaPorte RE. Standards for information systems in the global health network. Lancet 1994; 344: 1640-1. 12. LaPorte RE, Akazawa S, Gamboa C, et al. The death of biomedical journals. BMJ 1995; 310: 1387-90. 13. Ferguson EW, Villasenor A, Cunion S, et al. A global health disaster network is needed. BMJ 1995; 310: 1412. 14. International Working Group for Disease Monitoring and Forecasting. Capture-recapture and multiple-record systems estimation I: history and theoretical development. Am J Epidemiol 1995; 142: 1047-58. 15. International Working Group for Disease Monitoring and Forecasting. Capture-recapture and multiple-record systems II: applications in human diseases. Am J Epidemiol 1995; 142 1059-68. 16. Ginsparg P. First steps towards electronic research communication. Computation in Physics 1994; 8: 390-9. Os AutoresO Prof. Ronald LaPorte é médico e professor, Rangos Research Center, 5th floor, 3460 Fifth Avenue,Pittsburgh, PA 15213 USA, Fax: (412) 692-8329, laporte@vms.cis.pitt.edu. Lucia Christina Iochida é médica e professora do Departamento de Medicina Preventiva, Universidade Federal de São Paulo/EPM, R. Botucatu, 740, 04023-062 São Paulo, SP, Tel: (011) 570-4206 ou 576-4518, Fax: (011) 549-5159 ou 549-2127, e-mail: lci.prev@epm.br |
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